EBULIÇÃO DA ESCRAVATURA
A área de serviço é senzala moderna,
Tem preta eclética, que sabe ler “start”;
“Playground” era o terreiro a varrer.
Navio negreiro assemelha-se ao ônibus cheio,
Pelo cheiro vai assim até o fim-de-linha;
Não entra no novo quilombo da favela.
Capitão-do-mato virou cabo de polícia,
Seu cavalo tem giroflex (radiopatrulha).
“Os ferros”, inoxidáveis algemas.
Ração poder ser o salário-mímino,
Alforria só com a aposenadoria
(Lei dos sexagenários).
“Sinhô” hoje é empresário,
A casa-grande verticalizou-se.
O pilão está computadorizado.
Na última página são “flagrados” (foto digital)
Em cuecas, segurando a bolsa e a automática:
Matinal pelourinho.
A princesa Áurea canta,
Pastoreia suas flores.
O rei faz viaduto com seu codinome.
— Quantos negros? Quanto furor?
Tantos tambores... tantas cores...
O que comparar com cada batida no tambor?
“A escravatura não foi abolida; foi distribuída entre os pobres”
.
(Poema extraído da obra O NEGRO EM VERSOS, organização e apresentação de Luis Carlos dos Santos, Maria Galas e Ulisses Tavares. São Paulo: Moderna, 2005
Antologia da Poesia Negra Brasileira. ISBN 85-16-04760-1
4 comentários:
Professor até nas horas extras, né? haha
Adorei o poema!
Só tenho dúvida de que em meus 13 anos (é isso que se tem no oitavo ano, não?) eu pudesse analisar profundamente.
Imagino que serão bem guiados pelo excelente professor flamenguista (é como eles costumam marcá-lo, né?) haha. ;)
Beijo!
Livro roubado?
interressante poema!boa dica!
abs
Záia
Ótima escolha Felipe!
Ei, mandei um email pra turma e para o professor Fernado sobre a aula de sábado. Depois me diga o que pensas.
p.s: o texto sobre O direito à cidade também está ótimo. Professor que escreve para o aluno ainda é raridade.
Postar um comentário